Desejo
As palavras saíram tortas... na voz, no sentimento.
O lençol umedeceu-se recepcionando palidamente as lágrimas que caiam fartas do seu rosto vincado pela dor.
Por que toda história de
amor, questionou-se, tem de começar com um sorriso e ter um ponto final
feito de sofrimento? “Será isso uma regra inquebrável, pelo menos para
mim”? Insistiu em suas reflexões...
Era noite e a noite se vestia especialmente bela, como se pressentisse que algo especial haveria de ocorrer para eles...
Colocou de qualquer jeito
a última camisa na mochila, pegou o perfume que ficava sempre na
penteadeira, olhou seu rosto no retrato do espelho e viu um tolo... Tolo
por ter começado algo que desde o inicio nasceu sob o signo do
fracasso... Tolo por terminar algo que queria insistir...
Quis buscar mais
justificativas, para partir, para ficar, não conseguiu, todas as
desculpas que se dava estavam desafinadas com a verdade, a loucura
brotava em todos os cantos de seu sossego, sua paz sangrava no meio de
uma discussão que jamais conheceria vencedores, não queria mais acender
velas neste totem.
Agiu conforme a
consciência mensurando o tamanho da dor que deveria carregar dentro do
seu peito, sangue, lágrimas e adagas seriam seu legado doravante...
Escolheu o caminho que lhe pareceu que seria o mais correto, ainda que o
correto usasse a mascara do mais feroz dos demônios.
Abriu a porta do
apartamento... Partiu... Atrás de si ficaram muitos sonhos e um cálice
de lágrimas derramadas nos lençóis lívidos e um
beijo que deixou marcado na face dela que sentada na cama era mais uma
triste espectadora deste espetáculo que sugeria tragédia...
Na rua, ele olhou a noite
e tentou se convencer da única coisa que parecia real em toda esta
história: Um homem, algumas vezes em sua vida, não deve fazer o que quer
fazer e sim, o que precisa ser feito...
Pegou um taxi e este o levou para longe... longe... dela e de todas as coisas que queria amar e não podia...
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