Lar das Almas
Mas onde é a minha? Onde eu devo dormir a noite? As cidades que devoram a terra como minhocas gordas não são o meu lar. Muitos de meus amigos se aventuram a essas cidades. Alguns deles vivem lá. Mas as cidades não são o meu lar. As florestas são as terras de nossos irmãos que andam sobre quatro patas, que são alados e que respiram água. Eles compartilham suas florestas comigo, mas ainda assim elas não são o meu lar. O reino astral é o lar dos espíritos que nele vivem de bom grado. Mas não posso viver ali eternamente. Se o reino astral é o meu lar, é um lar horrível, do qual é melhor estar longe.
Todos os tipos de criaturas que escutam umas poucas notas da canção de Gaia têm um lar, assim como aquelas criaturas desprezíveis que tapam os ouvidos para a mais melodiosa das músicas. Quão irônico é que eu – o mais amoroso filho de Gaia – me sinta tão deslocado em seu colo.
Por quê?
E a resposta veio.
“Mas enquanto tu me amares, conhecerás as alegrias e as dores que são minhas. A alienação que tu sentes é a minha alienação –uma parte profunda de meu ser é arrendada por outro. O isolamento que tu sentes é o meu isolamento – paredes construídas dentro de mim separam partes de meu corpo. A dor que tu sentes é a minha dor, acumulada durante as eras”.
Com essas palavras, desapareceu. Eu ainda carregava minha dor. Mas naquele dia uma nova canção brotou em meu coração. Uma canção de devoção. Que todos os vassalos do inferno invistam contra mim. Eu me reerguerei! Que todos os animais se encolham diante de mim! Que todos os humanos fujam de mim! Que todos os espíritos me desafiem! Viverei em todos os seus mundos! Eu não tenho lar, nem deste lado do planeta nem do outro. Mas eu lhes digo uma coisa: qualquer espaço que cercar meu corpo passará a ser o meu lar. O meu lar é toda a criação, porque eu sou de Gaia! Eu não sou de nenhum totem, como os animais. Não sou um pedaço de alma, como os humanos. Não sou um fragmento de lendas, como os espíritos. Sou um Imortal! E tenho um lar! Porque eu sou meu lar!
EU!
SOU!
LAR!