terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Eternidade aos 20


Busco em minha alma algo que se perdeu
sinto-me sozinho sem o meu outro eu
talvez um pouco desesperado, cansado
este dia desperta em mim um pensamento equivocado
os trovões que caem lá fora gritam por qual motivo?
os céus exaltando a minha existência ou o inferno banindo o meu sorriso?
uma lágrima que corre em um coração abalado
lembranças que trazem as dores do passado
o que me espera neste futuro que eu mesmo criei?
as mordaças de um servo ou a liberdade de um rei?
o medo de se tornar apenas uma lembrança?
ou a glória ascendente rumo a esperança?
o caminho que eu sigo é uma ponte de espinhos
rodeada pelas trevas e carregada pelo vazio
a todos aqueles que me acompanharam nessa jornada chamada vida, eu deixo o meu sincero adeus
29, Janeiro de 2008, o dia em que Abel subiu ao céu como um verdadeiro deus

Abel _____________________________ Requiescat in Pace



Poema escrito quando meu alter ego completou 20 anos de existência.
Uma forma de tentar controlá-lo ou torná-lo mais forte.
Ainda não sei ao certo ...

domingo, 20 de janeiro de 2008

Torna-se sufocante
sem descrição exata
talvez surreal
sem nexo; simples nada

tentativas fúteis
sem obter sucesso
divago um instante
em seguida peço

"Caminho nas chamas
sem êxito, ainda vou
diga-me sinceramente
quem eu sou?"

o silêncio causticante
só me resta o lamento
nessa busca pelo meu "eu"
deixo-me ser levado pelo vento

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Eu sou a lenda

A força do vampiro é que ninguém quer acreditar nele”.
Obrigado, Dr. Van Helsing, pensou ele, deixando de lado seu exemplar de Drácula. Ficou sentado encarando a estante com um ar sombrio, escutando o segundo concerto para piano de Brahms, um uísque com limão e gelo na mão direita e um cigarro entre os lábios.

Era verdade. O livro era um amontoado de superstições e clichês de romance, mas aquela linha era verdadeira; ninguém havia acreditado neles, e como podiam combater algo em que sequer acreditavam?
Fora essa situação. Algo negro e noturnal havia saído rastejando da Idade Média.
Algo sem estrutura nem credulidade, algo que havia sido mantido confinado, sob todos os aspectos, às páginas da literatura imaginativa. Vampiros estavam ultrapassados, eram idílios de Summers ou melodramas de Stoker ou uma breve menção na Enciclopédia Britannica ou grão para o moinho do escritor de romances baratos ou matéria -prima para as fábricas de filmes B. Uma lenda de pouca importância transmitida de um século a outro.
Bom, era verdade.
Ele tomou um gole da bebida e fechou os olhos enquanto o líquido gelado escorria pela garganta e aquecia seu estômago. Verdade, pensou, mas ninguém jamais havia tido a oportunidade de saber. Ah, eles sabiam que era alguma coisa, mas não podia ser aquilo – não aquilo. Aquilo era imaginação, aquilo era superstição, não existia nada parecido com aquilo.
E, antes de a ciência alcançar a lenda, a lenda havia engolido a ciência e todo o resto.
Não havia encontrado nenhum pino de madeira naquele dia. Não havia verificado o gerador, não havia limpado os pedaços de espelho. Não havia jantado; perdera o apetite. Não era difícil. Perdia o apetite na maioria das vezes. Não conseguia fazer as coisas que havia feito a tarde toda e depois chegar a casa e comer com vontade. Nem mesmo depois de cinco meses.
Pensou nas onze – não, nas doze – crianças daquela tarde, e terminou o drinque em dois goles.
Piscou os olhos, e o quarto vacilou um pouco diante dele. Estás ficando bêbado, Velho, disse a si mesmo. E daí?, retrucou. Alguém tem mais direito a isso?
Jogou o livro do outro lado da sala. Sumam daqui, Van Helsing, Mina, Jonathan e Conde de olhos injetados e todos vocês! Todas invenções, todos extrapolações infantis em cima de um tema sinistro.
Uma risada pigarrenta escapou de sua garganta. Do lado de fora, Ben Cortman o chamou para sair. Já estou indo, Benny, pensou. Assim que vestir o meu smoking.
Teve um calafrio e cerrou os dentes. Já estou indo. Bom, por que não? Por que não sair? Era uma maneira segura de se livrar deles.
Ser um deles.
Riu da simplicidade daquela idéia, depois se forçou a levantar e andou mancando até o bar. Por que não? Sua mente continuou a divagar. Por que toda aquela complexidade quando uma porta escancarada e poucos passos poriam fim a tudo...



To be continued ...

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Suicídio


Quente ... Seco ... Escuro ...
Onde estou?
Preciso manter a concentração... Pensar, raciocinar...
Tudo acontece tão rápido... O cheiro forte de vodka continua impregnando minha camisa, mas não me sinto mal, exceto pela tontura...
Preciso matar alguém.
O pensamento me atinge como um soco. Engulo um pouco de saliva e sinto minha garganta secar novamente. Preciso beber alguma coisa rápido.
Matar...
O calor está me sufocando e a falta de ar começa a me deixar em pânico...
Preciso de uma dose... Agora...
Sinto o chão girar e quase perco o equilíbrio. Minhas mãos tremem, quase não dá para me controlar. Estou perdendo a consciência...
Não! Não... Não... Não...
Não consigo encontrar mais forças para resistir. o que quer que esteja sentindo, é mais forte do que eu. Tomado por impulso, um impulso suicida, não sei bem por quê.
Só um impulso.
jogo meu corpo do parapeito sobre a rua lá embaixo.
Sétimo andar.
Queda livre. Nenhum toldo, nenhuma proteção.
Lembro que levei menos de um segundo para chegar até a calçada. Aquele frio na barriga, o vento no rosto, a aceleração. Atinjo o chão como um saco de batatas, em um baque seco e surdo, a não ser pelo som dos ossos estalando como gravetos.
Mas é madrugada e ninguém me vê; ninguém escuta minha queda.
Apenas a lua cheia.
À noite, madrugada... A cidade inteira dorme.
Inteira?
Não.
Há um pequeno grupo de pessoas que não estão dormindo. Elas nunca adormecem. A noite é toda delas.
Nossa.
Prefiro não pensar nisso agora... Não pensar nisso...
Não é a queda que mata - dizem - Mas a súbita parada no final.






Uma descrição da minha última tentativa de suicídio.