terça-feira, 10 de março de 2009

Eu sou a lenda, part II

Realmente não sabia. havia, é claro, a possibilidade remota de em algum lugar existirem outros como ele, tentando continuar, esperando algum dia se reunir novamente aos seus. Mas como poderia encontrá-los se não estivessem a menos de um dia de viajem de sua casa?
Ele deu de ombros e serviu mais uísque no copo; havia desistido de usar medidores de dose meses atrás. Alho nas janelas e redes sobre a estufa e queimar os corpos e levar embora as pedras e, uma fração de centímetro de cada vez, reduzir sua quantidade nefasta. Por que se enganar? Nunca encontraria mais ninguém.
Seu corpo desabou pesadamente sobre a cadeira. Aqui estamos nós, crianças, confortavelmente sentados, aconchegados, cercados por um batalhão de sanguessugas que nada querem além de beber livremente minha hemoglobina garantida, cem por cento genuína. Tomem um drinque, rapazes, esse é realmente por minha conta.
Seu rosto se contraiu em uma expressão de ódio puro, inqualificável. Miseráveis! Vou matar todos vocês antes de desistir! Sua mão direita se fechou como uma tenaz e o copo se partiu com a pressão.
Ele olhou para baixo, sem expressão nenhuma, para os fragmentos no chão, para o pedaço de vidro partido ainda em sua mão, para o sangue diluído em uísque que escorria de sua palma.
Mas eles não gostariam de um pouco daquele sangue?, pensou. Levantou-se abruptamente com um impulso furioso e quase abriu a porta para poder sacudir a mão diante de seus rostos e ouvi-los uivar.
Em seguida fechou os olhos e um calafrio percorreu-lhe o corpo. Controle-se, amigo, pensou. Vá enfaixar sua maldita mão.
Cambaleou até o banheiro e lavou a mão com cuidado, soltando uma exclamação ao passar iodo na carne aberta. Depois a enfaixou de forma tosca, com o peito largo subindo e descendo com movimentos convulsivos e suor escorrendo em sua testa. Preciso de um cigarro, pensou.
De volta à sala, trocou Brahms por Bernstein e acendeu um cigarro. O que farei se um dia acabarem os pregos de caixão?, pensou, olhando para a fumaça azul do cigarro. Bem, era pouco provável isso acontecer. Ele tinha cerca de mil caixas no armário de Kathy...
Cerrou os dentes. No armário da despensa, da despensa, da despensa.
O quarto de Kathy.


To be continued ...

Capítulos Anteriores:
Eu sou a lenda, Part. I

Um comentário:

  1. Agora sim volto oq era..
    Adorei..
    Toh querendo ja ler a proxima parte..

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Se você conseguiu chegar até aqui, é porque teve paciência suficiente para agüentar minhas insanidades. Prometo agüentar as suas também... vai! Me diz aí o que você pensa.